Fonte: Drowski Nótícias - 24 Dezembro 2014
O maior partido político da oposição angolana, UNITA, está a ser acusado de
ter determinado “ordens superior” que visam “baixar a visibilidade” dos jovens
revolucionários e outros críticos do regime angolano, na sua Rádio Despertar
Comercial.
A direcção da Rádio Despertar, na voz do seu director adjunto, Queirós
Anastácio Chiluvia, desmentiu as acusações.
A denúncia foi feita na rede social Facebook, na segunda-feira, 22 de
Dezembro, pelo jornalista Coque Mukuta da Voz da América (VoA), que já exerceu
a função de jornalista colaborador na Rádio Despertar.
No seu perfil, Coque Mukuta denunciou que fruto de uma reunião realizada na
sexta-feira, 19, o Conselho de Administração da Rádio Despertar deliberou, dentre
outros pontos, o seguinte:
“1º Se a Rádio Ecclésia, por ser da igreja, dão maior tempo de antena ao
Papa, a Rádio Despertar por ser da UNITA também deve dar maior tempo à UNITA; 2º
Por terem os jovens do “Movimento” distratado a UNITA, já não podem falar em
directo; 3º A CASA-CE deve ser limitada a sua divulgação; 4º Se tiver um
programa com vários convidados e um deles é da UNITA, o programa não pode
começar sem antes o convidado da UNITA chegar”.
O jornalista da VoA revelou que ao receberem as novas ordens, os seus
ex-colegas na Rádio Despertar, que “estavam acostumados com um pouco de
liberdade, estão bravos”.
Por causa dum
post do Pedrowski Teca no Facebook
Em contacto com
o activista , afecto ao Movimento Revolucionário, Pedrowski Teca, na
terça-feira, 23 de Dezembro de 2014, Coque Mukuta questionou-o: “Qual foi o seu
post a criticar a UNITA? Segundo me consta, é sua intervenção que levou a essa
decisão”.
Tal como o
jornalista Coque Mukuta, o activista Pedrowski Teca não sabia de concreto de
que publicação a direcção da Rádio Despertar alegadamente se baseou para tomar
tais decisões, sobre tudo contra os jovens revolucionários.
Pedrowski Teca
apenas lembrou das críticas que fez recentemente, quando foi convidado a
participar no programa “Angola Fala Só” da Voz da América, onde defendeu que os
partidos políticos da oposição deviam tomar iniciativas próprias, porque
actualmente nunca agem fora dos limites impostos pelo partido no poder, MPLA,
sendo assim “estrumes que favorecem o crescimento da árvore” da ditadura em
Angola.
O activista
disse também que criticou a deputada da UNITA, Mihaela Webba, por esta ter
aconselhado os jovens revolucionários a cancelarem uma manifestação que exigia
a saída do presidente José Eduardo dos Santos do poder, a 22 e 23 de Novembro
do ano em curso, justificando que o regime baixou ordens para, se possível,
assassinarem os jovens manifestantes.
As críticas à
deputada surgiram principalmente por ela ter afirmado: “cancelem esta
manifestação e verão que o regime não terá outra alternativa, senão cair a seu
tempo, porque ele já apodreceu. O fruto podre, apesar de ainda suspenso na
árvore, cai por si”.
Pedrowski Teca
retorquiu sobre a gravidade da afirmação, alegando que a deputada que ganha
milhões para fazer oposição, transformou-se em religiosa, aconselhando o
faminto povo a cruzarem os braços impávidos porque “Deus proverá”.
Ordens superior
Este portal foi
informado que na sexta-feira (19), o Conselho de Administração da Rádio
Despertar alegadamente reuniu, abordando as “ordens superior” provenientes da
direcção do partido UNITA, e na manhã de sábado, 20, as novas “ordens superior”
foram transmitidas aos outros profissionais da mesma estação pelo director
adjunto, Queirós Anastácio Chiluvia.
Coincidentemente, no mesmo dia houve uma tentativa de marcha “contra a
brutalidade policial” organizada pelos jovens revolucionários.
Após a repressão da marcha e agressão aos manifestantes, o activista Manuel
Chivonde Baptista Nito Alves contactou a Rádio Despertar para denunciar as
atrocidades, mas foi informado categoricamente de que haviam novas “ordens
superior” que impedem que os jovens revolucionários falem em directo na
mesma rádio.
Este portal também foi informado que a Rádio Despertar, que tem feito a
cobertura das várias manifestações realizadas pelos jovens revolucionários apartidários,
não fez cobertura da mesma marcha que foi reprimida.
Em conversa com este portal, hoje (quarta-feira, 24 de Dezembro), o
activista Manuel Nito Alves confirmou que foi bloqueado de transmitir
informações em directo sobre a detenção e espancamento de manifestantes.
Não sendo a primeira vez que o activista tivera sido até proibido acesso à
Rádio Despertar, Manuel Nito Alves disse que entendia a censura imposta pela
UNITA, através da Rádio Despertar, porque a mesma estação radiofónica é privada
e defende as posições do mesmo partido.
Rádio Despertar:
direcção nega, jornalistas confirmam
O portal Drowski Notícias & Opiniões não só contactou hoje (quarta-feira,
24 de Dezembro), o director adjunto, Queirós Anastácio Chiluvia, mas também
alguns jornalistas da mesma estação, que falaram na condição de anonimato.
“O que o Coque Mukuta postou no Facebook é inteiramente verdade. Recebemos
ordens para baixar a visibilidade dos jovens revolucionários na Rádio
Despertar, não passando as suas informações em directo”, confirmou um
jornalista.
Dois outros jornalistas revelaram à este portal que não receberam
explicações que justificaram as novas “ordens superior”, mas foram informados
que quanto aos jovens revolucionários, a decisão foi tomada em resultado de uma
publicação do activista Pedrowski Teca, feita no seu perfil no Facebook.
O director adjunto negou categoricamente a veracidade de tais acusações, e
afirmou que a direcção da Rádio Despertar só não reagiu porque não pretendia
dar importância à mentiras.
Questionado sobre a censura feita ao activista Manuel Nito Alves no Sábado, 20, Chiluvia disse que foi uma
mera coincidência, e que os detratores da Rádio Despertar estão a usar para
sustentarem as mentiras veiculadas.
“Se a Despertar não fazer cobertura das manifestações dos jovens, quem vai
fazer? A rádio Nacional?” questionou Chiluvia.
Para além de afirmar que a rádio não iria se justificar pelas acusações, o
director adjunto disse que o tempo vai se encarregar a revelar a verdade sobre
as supostas censuras contra os jovens revolucionários e outros críticos do
regime na Rádio Despertar.
Precedentes
Dentre outros incidentes de censura contra os jovens activistas cívicos,
conhecidos como “revolucionários”, em 2012, a Rádio Despertar tivera concedido
espaço aos mesmos, que passaram a realizar um programa de rádio que se
denominava “Zwela Angola”, e que era transmitido em directo em todas as quintas
e quartas-feiras, das 14 às 15 horas.
O programa Zwela Angola foi retirado da grelha, não antes dos seus
pioneiros serem afastados e proibidos acesso à Rádio Despertar, por serem
considerados “ingratos” após estes terem convocado uma vigília contra a tomada
de posse dos partidos políticos da oposição, a 21 de Setembro de 2012, quando os
partidos políticos, sobre tudo a UNITA, que acusaram fraude eleitoral e ameaçaram
impugnar os resultados das Eleições Gerais de 31 de Agosto de 2012 nos
tribunais nacional e internacional, aceitaram os lugares que lhes fora atribuídos no Parlamento.
As divergências entre os partidos políticos da oposição, o partido no
poder, e os jovens revolucionário assentam-se principalmente na intolerância
diante de críticas.
Consequentemente, enquanto o partido no poder, corrompe, intimida,
persegue, prende, tortura e mata os jovens revolucionários apartidários, por sua vez, os
partidos políticos da oposição, em momentos críticos, indisponibilizam os seus meios,
ofuscando a causa e afastam-se publicamente das manifestações convocadas pelos
jovens revolucionários.
Censura
As acusações de interferências e censuras da UNITA na Rádio Despertar, que
também resultou na demissão de jornalistas, já foram motivos de várias críticas.
Segundo a DW África, “os
jornalistas queixam-se de pressões no seio da emissora que é também acusada de
emitir noticiários focados em informações sobre o principal partido da oposição
angolana e de não dar espaço a outros partidos”.
O portal alemã revelou que “cerca
de 80% dos 30 minutos de noticiário dizem respeito informações relacionadas com
atividades da UNITA. O Governo do MPLA e os restantes partidos da oposição
praticamente não têm espaço naquela emissora”.
“Alguns jornalistas daquela
rádio, que falaram à DW África na condição de anonimato, admitiram que sofrem
pressões frequentemente, principalmente no decurso de reuniões, onde são
constantemente reafirmadas ideias como: a Rádio Despertar é da UNITA, o patrão
é a UNITA, quem paga o salário é a UNITA e quem não estiver de acordo com a
linha editorial que abandone a rádio.”
Em entrevista no mesmo artigo, o jornalista
do semanário A Capital, João Marcos, afirmou que “a prestação da Rádio
Despertar não serve de modelo” de um meio comprometido com a democracia e com o
interesse público, pois “há uma forte carga partidária naquilo que é
informação”.
Perante este cenário e ainda
que a UNITA se afirme como “um partido com ideais assentes na democracia”, há
“uma incógnita” quando se coloca em cima da mesa a hipótese de, no futuro, a
UNITA chegar ao poder, avalia João Marcos.
A Rádio Despertar Comercial é o
ressurgimento da “VORGAN”, antiga emissora do partido UNITA, que foi
estabelecido em Luanda, como parte dos acordos da Paz alcançada em 2002.
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