sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A política angolana e o futebol



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Fonte: www.morromaianga.com

Em parte estou de acordo com quem acha que a política é um jogo/desafio.

Para mim a política devia ser, entretanto, mais um desafio do que propriamente um jogo.

Um desafio sobretudo à imaginação de quem nos governa ou de quem quer ser governo nas próximas eleições.

Acho que na política a imaginação é muito importante, tendo conta a definição, segundo a qual, a dita cuja também é uma arte, mesmo que os cabotinos continuem a ser a maioria nos palcos da governação e das oposições, com os resultados que todos conhecemos.

Estou igualmente em sintonia com quem vê a ingenuidade como sendo um “pecado capital” que se comete quando se está na política pura e dura.

O problema é que em Angola a política para além de ser pouco desafiante, onde o debate contraditório está muito timidamente acantonado no parlamento, também não chega a ser um jogo convencional.
Os jogos, mesmo os considerados de azar, têm regras claras e têm sempre alguém (podem ser várias pessoas) a quem é atribuída a competência/função de fiscalizar o seu cumprimento que é obrigatório, penalizando quem não age em conformidade.

Gosto muito de comparar a política ao futebol que ao lado do baskete são as duas modalidades desportivas cujas regras/limites eu entendo melhor, não sendo especialista de nenhuma delas.

Para mim o fundamental no futebol é que, com a excepção do guarda-redes, mais nenhum outro participante pode jogar com a mão.

No basquete as coisas ainda são mais claras, porque ninguém pode jogar a bola com os pés.

O futebol é um jogo bastante viril, onde são permitidos os quinhões, mas já não é possível ao arbitro tolerar uma rasteira dentro da grande área, que normalmente é punida com a marcação de uma grande penalidade que pode incluir a expulsão do rasteirador.

O que se vê na política angolana é que ela tem poucas regras, com a agravante de não ter ninguém, do tipo arbitro, que tenha poder suficiente para fazer com que as que existem sejam rigorosamente aplicadas e cumpridas.

Para mim a principal regra da política angolana está consignada no artigo 17 da CRA, segundo o qual “os partidos políticos têm direito a igualdade de tratamento por parte das entidades que exercem o poder público, direito a um tratamento imparcial da imprensa pública e direito de oposição democrática nos termos da Constituição e da lei.”

Por exemplo, para mim uma coisa é o poder estar atento a todas as jogadas da oposição e contra-atacar de imediato ou mesmo antecipar alguma jogada que não estava prevista, pois ainda não havia informação suficiente sobre os planos do adversário.

A outra coisa, é decretar um recolher obrigatório ou fechar as principais ruas da cidade não permitindo que o adversário entre sequer em campo.

A regra fundamental aqui é que a cidade é um espaço público onde as autoridades garantem a livre circulação de pessoas e bens.

Se estamos de acordo que a política pode ser comparada a um jogo de futebol, então o arbitro não pode expulsar todos os jogadores de uma das equipas antes dela se equipar e entrar em campo.

O que se passa com a política em Angola é que começa a ser cada vez mais forte a tentação de não permitir sequer que haja jogo com a utilização dos mais espúrios estratagemas, que normalmente passam pela manipulação do poder administrativo/policial.

Não havendo jogo ou não se permitindo que uma das equipas saia do balneário, a política como tal deixa de fazer qualquer sentido.

Será que alguém quer jogar a bola só com uma equipa?
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