segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Lucas Ngonda sob pressão após o adiamento do congresso da FNLA


Santos Pedro/JA Imagens
Fonte: Rede Angola - 24 Janeiro de 2015

O presidente do grupo político alegou razões logísticas e financeiras, mas a desculpa não convenceu os militantes.

A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) continua sem acertar o passo e sem criar um clima de paz interna que facilite o entendimento entre as diferentes alas que compõem o partido. O IV Congresso Ordinário, que se deveria realizar de 25 a 28 de Janeiro, em Luanda, foi adiado para os dias 13 a 15 de Fevereiro. Lucas Ngonda, actual presidente da FNLA e candidato à reeleição, alega que o adiamento decorre de motivos logísticos e financeiros. Os restantes candidatos falam em negociações para integrar a ala de Ngola Kabangu.

Em conversa telefónica com o Rede Angola, Lucas Ngonda (que tem, aparentemente, caminho aberto à reeleição) diz, no entanto, que tais negociações “são apenas especulação”. “O espaço para o debate e integração dos irmãos desavindos já foi criado. O Comité Central criou mecanismos internos para que toda a gente se unisse em torno do partido. Ngola Kabangu, e as pessoas que o apoiam, rejeitaram participar nesta iniciativa. E chegaram mesmo a organizar encontros para que alguns militantes fossem desencorajados de aderir ao processo de união”, recorda Ngonda.

Para o líder da FNLA, as razões do adiamento são puramente logísticas e financeiras. “O problema do Congresso é que, em 2010, só para citar um exemplo, alugar o Cine Atlântico para fazer o Congresso custou cerca de USD 230 mil. A FNLA não tem este dinheiro. O partido não tem estes fundos. Então, resolvemos reabilitar as nossas instalações (o Complexo 15 de Março, em Luanda) para fazermos o encontro do partido dentro de casa. Acontece que o empreiteiro pediu-nos mais quinze dias para finalizar a obra”, explica Lucas Ngonda.

Mas esta justificação não é bem aceite pelos restantes candidatos à liderança da FNLA: David Martins, Pedro Gomes e José António Fula. Pedro Gomes afirma que Lucas Ngonda está “apenas a arranjar uma forma de mostrar serviço”. “Como as obras das nossas instalações em Luanda estão atrasadas, ele prefere concluir tudo para depois usar essa situação como trunfo eleitoral”. E desmente mesmo Lucas Ngonda. “Por outro lado, sabemos que está em curso mais uma tentativa de concertação com o Ngola Kabangu”, refere Pedro Gomes.

Na quarta-feira, 21 de Janeiro, a ala de Ngola Kabangu promoveu uma manifestação em Luanda, junto à sede do partido, para protestar contra as decisões de Lucas Ngonda e contra a realização do Congresso. O que é certo é que, no mesmo dia, Laiz Eduardo, porta-voz da FNLA, anunciou publicamente o adiamento do conclave.

José António Fula também alinha pela mesma argumentação de Pedro Gomes. “Se a razão do adiamento do Congresso é apenas logística, então não posso estar de acordo com essa medida. O mandato de Lucas Ngonda terminou no passado dia 7 de Julho. Julgo que teve muito tempo para, dentro dos estatutos do partido, preparar o Congresso. Agora, se a razão do adiamento está relacionada com negociações, que dizem ser verdadeiras, com a ala de Ngola Kabangu, então estou de acordo com o adiamento. A FNLA precisa urgentemente de sair da sua raiz histórica para entrar na fase da democracia e dos desafios que o país enfrenta”, destaca Fula.

David Martins diz apenas que não tem “muitas informações sobre o que terá levado a esta tomada de decisão”. “O que sabemos é que o Complexo 15 de Março está em obras e que a falta de verbas foi o argumento divulgado pela direcção de Lucas Ngonda. Agora, nós sabemos também que o Ngola Kabangu tem pressionado o partido a entrar em novas negociações”, lembra.

A divergência entre Lucas Ngonda e Ngola Kabangu deu que falar e apenas foi resolvido pelo Tribunal Constitucional – que deu razão a Ngonda. A partir daqui, ficou criado o caminho para que o actual presidente da FNLA levasse as suas ideias para a frente. Só que o clima interno nunca se desanuviou. Pelo contrário, a ala de Ngola Kabangu continua a ser importante na forma como o partido se movimenta. O Rede Angola tentou, por diversas vezes, obter um esclarecimento junto de Kabangu, mas o político não respondeu às chamadas efectuadas para o seu telefone pessoal.

Juntamente com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido que está no governo desde 1975, e com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, a FNLA foi um dos movimentos nacionalistas envolvidos na luta de libertação.

Conhecido como o partido dos “irmãos”, a FNLA foi fundada há mais de meio século pelo histórico líder angolano Holden Roberto, que morreu em 2007. Contrariamente ao peso do MPLA e da UNITA no plano político angolano, a FNLA conta actualmente com apenas dois deputados eleitos à Assembleia Nacional.
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