sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A publicidade da Compal (é) 100%


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Fonte: www.morromaianga.com

No meu inconsciente já tinha desistido de algum dia vir a ser particularmente sensibilizado e por consequência “forçado” a atribuir  uma nota positiva mais extraordinária a alguma mensagem publicitária/spot veiculada pela nossa comunicação social. Decepcionado com o recorrente recurso a algumas ideias mais negativas ou menos inspiradas, com que os criativos apostaram para vender bens e serviços em Angola, para mim a publicidade passou a ser um terreno de poucas, quase nenhumas, surpresas/novidades.

A título excepcional, as surpresas que tenho tido são normalmente aquelas que fazem a diferença por baixo, isto é, que são o resultado do esforço aplicado pelos seus criativos em ultrapassarem o chão como limite.
As outras surpresas prendem-se com a utilização de recursos nada convencionais que acabam por ser mesmo incompatíveis nestas lides publicitárias, tendo em conta o tratamento igual a que todos os investidores têm direito.

O destaque mais recente vai, certamente, para a inédita, chocante e ostensiva utilização da imagem de marca de um canal público e do seu principal âncora, transformado em garoto propaganda, para vender os serviços de um banco privado.

Já tinha visto muitos atropelos e confusões, mas aquele ainda não estava, sequer, nos meus planos futuros.
Diante desse show, veio-me uma vez mais à mente o principio de Murphy, segundo qual nada está tão mal, que não possa ficar ainda pior, sendo Angola um terreno onde a sua consistência tem estado a ser testada com bastante êxito.

Tudo estava a correr mais ou menos mal para as minhas expectativas que, normalmente e por deformação profissional são muito altas/críticas no segmento mediático, quando há pouco mais de um mês, dois dos meus cinco sentidos foram literalmente atraídos para o spot da “Compal 100%”.

Se tivesse um sexto sentido, sempre fazia alguma economia dos meus neurónios, pois considera-se que este último funciona com uma maior economia de energia.

De imediato uma luzinha intensa/estranha começou a piscar no meu cockpit de forma insistente.

Não tive a menor dúvida em concluir, do tipo amor à primeira vista, que estava diante de um facto extraordinário para a média a que estamos habituados (queria dizer mediocridade), a apontar bem lá para cima em matéria de qualidade.

Recorri dias depois ao meu diário on line/facebook onde comecei por escrever que o dito cujo era o exemplo acabado de como a publicidade pode ser perfeita de todas as perspectivas/valores/princípios, sem deixar de cumprir a sua função principal que é ajudar a vender bens e serviços.

Este clip é uma verdadeira aula dirigida sobretudo a alguns criativos que andam por aí armados em chico-espertos a fazer/veicular disparates e outras tantas patetices, em permanentes atentados/ofensas à nossa inteligência e à nossa dignidade.

Definitivamente, aprendam com quem sabe!

Apesar de saber que este conselho dificilmente será seguido por quem de direito, porque de uma forma geral os membros deste clã são demasiado “expertos”, não me cansarei de apontar nos próximos tempos o “Compal 100%” como sendo o grande acontecimento deste ano no domínio da criatividade publicitária no nosso mercado.

O spot é esteticamente perfeito, graças à decisiva contribuição da beleza feminina genuinamente fabricada em Angola e por angolanos, que em princípio deviam estar apaixonados um pelo outro, quando fizeram aquela pérola.

Está, por outro lado, comprovado que o produto publicitado não tem uma única gota de álcool o que nos garante que o mesmo não terá qualquer possibilidade de contribuir para a bebedeira geral em que as cervejeiras, nomeadamente, decidiram mergulhar a nossa juventude a preços cada vez mas atraentes e competitivos.

Chegará o dia em que os amantes do inebriante e amarelado liquido serão pagos para continuarem a beber, mas sempre com moderação, até caírem definitivamente para o lado e deixarem de estudar de uma vez por todas.

Depois o “Compal 100% acaba por ter o formato de 4 em 1, isto é, para além de publicitar o adocicado liquido  (só espero que não tenha muito açúcar por  causa das diabetes), ainda faz propaganda do desporto/basquetebol como sendo a melhor forma da juventude ocupar os seus tempos livros, da carreira universitária como profissão e do voluntariado como responsabilidade social.

Juntar todos estes valores de referência em 35 segundos, só pode resultar numa história de grande sucesso para as possibilidades/potencialidades que a publicidade tem em contribuir da forma mais positiva possível para o crescimento da economia/desenvolvimento da sociedade.

Depois deste “Compal 100%”, acredito que se pode vender tudo e mais alguma coisa com muito êxito sem se precisar de  baixar o nível da inteligência média dos angolanos a um ponto que às vezes chega a ser perturbador, por se estar aproximar demasiado da sarjeta.

NA-Texto publicado no “O País/Revista Vida/Secos e Molhados”-16/08/13
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