domingo, 16 de junho de 2013

Urbanismo, Dólares, Gasóleo e Incompetência em Luanda




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Por Maka Angola ,Jjunho 15, 2013  

Apesar de Angola ter registado, na última década, uma das maiores taxas de crescimento económico do mundo, o executivo do presidente José Eduardo dos Santos tem demonstrado total incapacidade na melhoria do abastecimento eléctrico de Luanda, que consome 70 porcento da energia produzida no país. A maioria dos citadinos, instituições públicas e empresas vêm-se forçadas a recorrer a geradores, alimentados a gasóleo, como fontes alternativas de energia. 

Em Setembro do ano passado, inaugurou-se, em Luanda, mais um projecto habitacional de média renda para funcionários da Sonangol, bancários e outros, no município do Cazenga, junto à Frescangol em Luanda. São mais de 1,088 apartamentos distribuídos por 17 edifícios.

Uma breve investigação do Maka Angola, junto do referido condomínio, confirmou um dado curioso: a urbanização não tem energia eléctrica de rede.

Como medida alternativa, o complexo consome energia eléctrica produzida por oito geradores de 850 Kvas cada. Os gastos mensais em gasóleo, para os geradores funcionarem, permanentemente, estão calculados em cerca de US $200,000. Deste modo, a urbanização já queimou em combustível, desde a sua inauguração, cerca de um milhão e 800 mil dólares para ter energia eléctrica. Ou seja, desperdiça, mensalmente, mais do que o equivalente ao preço médio de um apartamento, no valor de US $180,000. Desde Setembro de 2012, o complexo habitacional terá já gasto o equivalente a dez apartamentos de qualidade média em área peri-urbana de Luanda.

Os gastos com combustível, quando divididos por cada apartamento não parecem, à partida, exorbitantes. Equivalem a US $183 mensais por cada unidade habitacional. No entanto, de acordo com dados oficiais, Angola é dos países africanos que mais subsídios providencia ao sector de energia, cobrindo 80 porcento do custo total da tarifa média de produção de electricidade (US $42/MW). 

Segundo uma nota do Fundo Monetário Internacional sobre a política energética do governo, em 2011, a equipa do presidente José Eduardo dos Santos gastou mais em subsídios de energia do que “com a saúde e educação combinados e quase tão grandes quanto as despesas de capital”. 

Qual é o efeito de biliões de dólares em subsídios de electricidade? Esta questão merece outra investigação.
No centro da cidade, edifícios modernos de escritórios, ocupados por multinacionais, também têm custos elevados de consumo de combustível para produção de energia eléctrica através de geradores, variando em média entre US $20,000 e 40,000 mensais por cada prédio. A rede eléctrica da cidade não os suporta e em Luanda nenhuma empresa consegue funcionar sem recurso a geradores, dada a falta de fiabilidade da infrastrutura eléctrica, com constantes falhas, imprevisíveis e por períodos indeterminados. 

Nos bairros periféricos de Luanda, sobretudo nos chamados musseques, onde habita a vasta maioria da população da cidade, em condições de pobreza abjecta, a situação do abastecimento eléctrico é ainda mais precária. A maioria dos habitantes recorre a ligações ilícitas e precárias à rede de distribuição. 

Nos musseques, o inconstante abastecimento de electricidade, de acordo com a sabedoria popular, produziu uma máxima sobre a refrigeração de alimentos: “Se guardar, estraga”.

Nos últimos anos, a cidade de Luanda tem registado elevados índices de construção, quer planificada em áreas urbanas e peri-urbanas, quer desordenada. Ao longo dos anos têm sido criadas várias comissões presidenciais para o reordenamento urbano, e têm abundado os estudos sobre o crescimento da cidade.

A pressão demográfica, a especulação imobiliária, a política de improviso do executivo do presidente José Eduardo dos Santos e a falta de infraestruturas básicas, como redes adequadas de água, electricidade e esgotos, assim como vias de acesso, tem gerado graves problemas, transformando Luanda numa cidade-pesadelo. Sendo uma das cidades mais caras do mundo, Luanda acumula também, certamente, a infeliz qualificação de ser um centro urbano absolutamente caótico.

Relativamente ao sector da electricidade, o presidente aprovou em 2011, através do decreto n.º 256/11, a Política e Estratégia de Segurança Energética Nacional. 

Esse pacote legislativo reconheceu a inoperacionalidade de cerca de metade da infraestrutura de produção, transporte e distribuição de energia no país. Identificou, como factores de estrangulamento do sistema de electricidade, o envelhecimento dos equipamentos e a falta de manutenção da rede. 

Existem vários estudos e planos para Luanda, relativos a vários sectores, elaborados por consultores externos e aprovados pelo presidente da República. No entanto, as autoridades angolanas continuam a ignorar o elemento fundamental para uma melhor estruturação de Luanda e para a realização de projectos eficazes do ponto de vista urbanístico e económico: ouvir a opinião e registar as críticas dos citadinos por via do diálogo aberto.

Por exemplo, em 2007, o presidente criou o Grupo Técnico Ad-Hoc para o Acompanhamento da Revisão do Plano de Gestão do Crescimento Urbano de Luanda. Esse grupo deveria rever o trabalho da comissão nomeada para o efeito. Passados dois anos, em 2009, o chefe do executivo, criou outra comissão encarregue de elaborar um novo plano director para o desenvolvimento urbano de Luanda. Esta última tinha como coordenador adjunto o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, um homem da confiança de José Eduardo dos Santos mas sem quaisquer qualificações em matéria de urbanismo.

As opções sobre o crescimento urbano de Luanda, assim como os seus custos e as relações custo-benefício, devem merecer o debate da sociedade. Se o presidente e o seu séquito centralizam todas as questões da vida nacional, como vontade de um selecto grupo de dirigentes, a sociedade deve adoptar por uma atitude contrária.

Em última instância, não são os dirigentes quem pagam, do seu próprio bolso, os US $200,000 mensais para o combustível necessário ao fornecimento de energia ao condomínio da Frescangol. Também não são as petrolíferas que pagam os elevados consumos de combustível dos edifícios onde operam. Estes são custos que acabam por ser pagos por todos os angolanos.

Independentemente do custo, a resposta improvisada à falta de infraestructura eléctrica através do uso de geradores não constitui uma alternativa a longo prazo que possa fundamentar o crescimento económico da cidade. 

O executivo, incompetente e sem vontade política para resolver os problemas dos cidadãos e das empresas, tem preferido assobiar para o ar, criando comissões que nada resolvem e encomendando estudos sem qualquer utilidade. 

Perante as generalizadas deficiências do abastecimento energético em Luanda, Norberto Garcia, dirigente do MPLA, chegou mesmo a aconselhar os residentes e empresários da cidade a que comprassem geradores. Esta lógica de incompetência governativa e de desinteresse total pelo bem público deve ser substituída por uma responsabilização efectiva dos governantes e pela participação construtiva dos cidadãos nas decisões sobre o futuro da capital (assim como de todas as cidades em Angola). Sem isso, Luanda continuará a ser, cada vez mais, um caos urbano e uma cidade-pesadelo.
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