sábado, 8 de junho de 2013

Policiais Assaltam Residência do Rapper Marshall Liricista do Movimento Revolucionário




“Na zona do Futungo, algemaram-me a um suspeito, alinharam-nos contra uma parede, e fizeram uma rajada contra nós, rente aos pés. Entrou-me areia nos olhos, do ricochete das balas, que eu vi a tocaram no chão. Nunca pensei que passaria por uma situação destas. Fizeram também vários tiros ao ar”, denunciou o rapper.

Por Maka Angola , junho 8, 2013
 
Cerca de 25 agentes da Polícia Nacional efectuaram, na madrugada de Sexta-feira, por volta das 5h00, uma operação de buscas e captura, no Bairro Marçal, em Luanda, que resultou na breve detenção do rapper João Carlos da Silva “Marshall Liricista”, de 32 anos, um conhecido membro do Movimento Revolucionário Juvenil.

Filomena José Carlos, mãe do músico, explicou ao Maka Angola como os agentes policiais cercaram a sua residência, tendo tentado remover a cobertura e o forro da casa, sem sucesso, para entrarem também pelo tecto.

“Eu tive sorte, se tivesse sido um dos meus filhos a abrir a porta os polícias teriam disparado. Eu abri a porta. Os agentes disseram-me que vinham à busca do meu filho, sem mandado de busca ou de captura, sem papel nenhum”, explicou a mãe.

Diante da mãe, os agentes policiais, identificados com insígnias da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), trataram primeiro o irmão mais novo de Marshall, Jonas Joaquim, ao tabefe. Em seguida, dirigiram a sua atenção para o rapper. “Deram-me duas bofetadas também frente à minha mãe, antes de me algemarem”, contou.

Os policiais apreenderam, segundo depoimento da vítima, uma viatura Hyundai 10 (pertencente à sua esposa), a sua motorizada, o seu telemóvel e dinheiro no valor de $1,000. Conduziram-no a uma unidade policial, conhecida como Esquadra do Chinguar, no Bairro Benfica, a sul de Luanda.

“Queriam saber [os policiais] onde o meu filho encontrou o carro que conduz. O carro é da minha nora e ele tinhas os papéis todos em ordem”, disse Filomena José Carlos.

Antes da operação, os agentes atacaram o vizinho do lado. “‘Abre a porta porra!’, eles gritavam. No total, 15 polícias entraram em minha casa, bateram-me a bofetadas, diante da minha mulher e filhas, que começaram a chorar”, informou o vizinho Nicolau Manuel.

“Eu fiquei admirado com o comportamento dos polícias. Eles queriam saber onde morava o Marshall e diziam que ele era ladrão”, acrescentou.

O vizinho foi obrigado a revelar a residência do alvo e só após a captura de Marshall Liricista, os agentes retiraram as algemas de Nicolau Manuel e deixaram-no em paz. 

Já na viatura policial, um dos agentes atingiu Marshall Liricista com dois pontapés no peito, por este ter reclamado o roubo do telefone por um agente. “Ele tinha o telefone no bolso e quando tocou dei conta. Acabou mesmo por ficar com o meu aparelho”, contou. O jovem revelou ainda que os agentes também “roubaram” os US $1,000 retirados da sua residência, tendo devolvido apenas a motorizada e a viatura, esta em mau estado.

“Na zona do Futungo, algemaram-me a um suspeito, alinharam-nos contra uma parede, e fizeram uma rajada contra nós, rente aos pés. Entrou-me areia nos olhos, do ricochete das balas, que eu vi a tocaram no chão. Nunca pensei que passaria por uma situação destas. Fizeram também vários tiros ao ar”, denunciou o cidadão.

Já na Esquadra do Chinguar, que descreveu como “uma bagunça sem procurador, para actos clandestinos”, Marshall Liricista foi informado do seu crime. “Um dos agentes disse-me apenas: ‘Recebemos a informação de que você é altamente perigoso. Agora vemos que essa informação não condiz com a realidade’”.

A família, liderada pela mãe Filomena José Carlos, dirigiu-se à referida unidade às 9h30 e junto dos agentes recebeu a justificação segundo a qual o seu filho foi detido devido “ a uma queixa da vizinhança, que tem inveja dele pelo seu sucesso”.

“Eu não sei como essa polícia trabalha. Fazem coisas à toa e falam à toa”, exprimiu a mãe da vítima.

Entretanto, o conhecido advogado David Mendes, ofereceu patrocínio jurídico ao músico. “Vamos apresentar queixa, como prevenção, uma vez que está identificada a esquadra. Vamos pedir a abertura de um inquérito à Procuradoria-Geral da República, porque houve uma operação fora da área de jurisdição”, disse o defensor dos direitos humanos.

“Como podem os agentes policiais destacados no Benfica [município de Belas] deter um cidadão no Marçal [município de Luanda], quando são áreas de jurisdição distintas? É assim que as autoridades fazem desaparecer pessoas. Isso é um sequestro”, denunciou David Mendes.

Segundo Marshall Liricista, no acto da sua libertação, perto das 14h30, “os polícias aconselheram-me a não revelar a ninguém a forma como me trataram. Disseram-me para ter cuidado, alegando que o meu bairro tem muitos invejosos que estão de olho em mim, e que ‘este assunto fica por aqui’”. 

Até à sua detenção, esta manhã, o músico era um dos raros membros do Movimento Revolucionário Juvenil e activo participante manifestações anti-regime que ainda não tinha sido detido.

Não foi possível obter a reacção da Polícia Nacional.

Para além de músico, Marshall Liricista trabalha como corrector imobiliário independente e projectista, com o curso médio de Construção Civil. Actualmente frequenta o segundo ano do curso de Relações Internacionais na Universidade Lusíada.

Na sua recente entrevista à SIC, o presidente José Eduardo dos Santos definiu os jovens do Movimento Revolucionário Juvenil, que desde 2011 têm organizado manifestações contra si, como “frustrados”, desempregados e sem formação.
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