terça-feira, 18 de junho de 2013

"O fim da pobreza?" - Central Angola 7311




Fonte: centralangola7311.net

Desde ontem que tem estado a circular uma informação que dá conta do “reconhecimento da FAO ao ritmo de cumprimento dos objectivos de desenvolvimento do milénio por parte de Angola, que irá antecipar-se assim às datas preconizadas pela Organização dos Alimentos e Agricultura das Nações Unidas”.

Uma leitura mais cuidada das felicitações estendidas à Angola pela FAO revela rapidamente a fanfarronice de costume por parte dos nossos órgãos públicos, especialistas em fogos-de-artifício que depois do efeito-maravilha efémero, se reduzem aos fétidos odores de pólvora queimada.

Pedimos a João Stattmiller, angolano atento e sensível ao tema, que nos fizesse uma leitura do que estava realmente em causa e até que ponto devemos congratular-nos com estas constatações. Hoje, brindou-nos com a sua análise que abaixo reproduzimos.

“Conforme solicitado aqui deixo uma nota sobre a recente notícia de que a FAO “premiou” o governo Angolano por ter atingido as metas de desenvolvimento do milénio na questão da redução da fome. Em primeiro lugar gostaria de salientar que procurei no site oficial da FAO e nada encontrei que diga isso, talvez sejam os meus olhos portanto deixo o link para que cada um faça a sua busca e se encontrar é favor partilhar.

http://www.fao.org/countryprofiles/index/en/?iso3=AGO&subject=4

Por outro lado em relação à noticia é preciso notar nela as entrelinhas. Diz o seguinte a notícia:

“Angola e Brasil fazem parte dos bem sucedidos, o país africano conseguiu diminuir em 57% o número de pessoas sujeitas a fome desde 1990-92, passando dos 63% da população para os 27%.”

Em 90/92, há mais de duas décadas atrás, estávamos em plena guerra e com mais de metade da população (63%) a depender da ajuda alimentar do PAM. Hoje esse número foi de facto reduzido o que não quer dizer que 27% da população em situação de insegurança alimentar seja aceitável.

De resto confesso que não tive acesso a qualquer relatório e dados da FAO para poder de analisá-lo de forma crítica e sobre ele tecer considerações.

O que posso dizer é que já desde o fim da guerra que a chamada (na altura) Missão FAO/PAM não se realiza.

Como conheço bem essa missão pois nela participei várias vezes posso informar que era uma missão de recolha de dados e pesquisa anual que procurava obter dados para calcular a produção em cada ano e o respectivo deficit alimentar em Angola bem como as suas implicações na segurança alimentar das populações.

Servia em sentido lato para calcular em função do deficit na produção nacional quais seriam as necessidades de importação de alimentos (quer por via comercial quer pela ajuda alimentar) de forma a evitar a fome.

Desconheço portanto, a fazer fé na notícia, que dados foram usados pela FAO para chegar às conclusões que chegaram e aferir o cumprimento das metas de desenvolvimento do milénio na componente de segurança alimentar, até porque segundo os próprios dados oficiais do Ministério da Saúde de Angola* no caso por exemplo das crianças com menos de 5 anos temos 5,9% com má nutrição severa a que se juntam mais 35.6% a viver com má nutrição crónica, portanto um total de 41,5% de todas as crianças com menos de 5 anos no país a sofrer com problemas de má nutrição.E isto, repito, nas estatísticas oficiais do Ministério da Saúde.

Só por si este número é bem elucidativo do impacto actual e para as gerações futuras da insegurança alimentar e contraria a propaganda a propaganda do “sucesso” anunciado.

Tenho dito e defendo que este problema da insegurança alimentar e da má nutrição, em particular das nossas crianças, é uma questão de “segurança nacional” pois para além da mortalidade que provoca também afecta de forma irreversível o desenvolvimento físico e intelectual de quase metade dos adultos de amanhã. Com as consequancias para o país que podemos imaginar. Espero que isto possa contribuir para a reflexão em torno do assunto.

Abraços

João”

*O sublinhado é nosso

Nota da Central:

Depois de uma pequena busca pelo universo cibernético encontrámos esta notícia no site da FAO que deixa bem claro que Angola terá atingido o primeiro objectivo de desenvolvimento do milénio, a saber, o de “reduzir pela metade o número de pessoas afectadas pela fome”, juntamente com 38 outros países, dentre os quais o Bangladesh, Camarões, Cambodja, Níger, Nigéria, entre outros.

Do grupo de 38 países, 20 não conseguiram ir além desse primeiro objectivo de desenvolvimento dentre os quais, como podemos constatar, estamos nós.

Os outros 18 superaram um objectivo mais rigoroso estipulado no World Food Summit em 1996 que era o de reduzir pela metade o número de subnutridos até 2012. Dentre estes 18 constam países como o Quirguistão, Arménia, Cuba, Venezuela, Tailândia e os africanos Djibouti, Ghana e … S. Tomé e Príncipe.

Vejam agora como o nosso Pravda escangalhou este dado e escarrapachou na sua primeira página a sua vergonhosa propaganda.

Leia o artigo publicado pelo Jornal de Angola: "ANGOLA VENCE POBREZA"
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