sexta-feira, 7 de junho de 2013

“Furo” jornalístico foi um passeio no parque para José Eduardo dos Santos



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Correspondente da SIC Henrique Cymerman que entrevistou o PR Angolano

Fonte: Jornalde Negocios.pt

A entrevista de José Eduardo dos Santos à SIC foi um “furo” jornalístico e um passeio no parque para o presidente da República de Angola.

O “Furo” jornalístico traduziu-se numa entrevista melosa e a hierarquização das perguntas causou a maior das perplexidades. Por exemplo, a segunda pergunta do jornalista Henrique Cymerman a José Eduardo dos Santos foi: como estão as relações entre Angola e Israel. Um critério que só se compreende por duas ordens de razões – uma teoria da conspiração que se esmiuçará de seguida e o facto de, eventualmente, a referida entrevista poder vir a ser transmitida na televisão israelita.

A teoria da conspiração é a seguinte. Israel apoia militarmente, desde há muito, Angola, e a aproximação de Telavive é ainda potenciada pelo facto de Angola ser um dos poucos países de África onde o islamismo não penetrou. Por outro lado, o lóbi judeu nos EUA é útil como contraponto aos lóbis que questionam a liderança de José Eduardo dos Santos, eventualmente promovidos pelas petrolíferas. E porquê? Porque uma dose q.b. de instabilidade em Angola mantém o país sob a dependência das receitas do petróleo e, por acrescento das grandes companhias petrolíferas.

Ao longo da entrevista, José Eduardo dos Santos não foi colocado perante nenhuma pergunta imprevista e conseguiu fazer passar a sua mensagem em Portugal, através da SIC, um órgão de comunicação social que goza de boa reputação em Angola, principalmente entre os oposicionistas ao regime. As contas do que a SIC ganhou, ou perdeu, com esta operação, só poderão ser feitas mais adiante no tempo.

Quanto às mensagens específicas que José Eduardo dos Santos transmitiu destacam-se estas:

1.           O facto de ter dito que as relações entre Portugal e Angola se desenvolvem “num quadro de amizade e cooperação”, tirando assim legitimidade a uma ala ortodoxa do MPLA que é manifestamente antagónica dos portugueses e defende outro tipo de alianças. “Já não nos guiamos por padrões de relacionamento do passado” e as relações entre os dois países “estão voltadas para o futuro, com vantagens mútuas no domínio económico”. E os trabalhadores portugueses “são bem-vindos”. Frases que deverão tranquilizar as empresas e os expatriados portugueses em Angola.

2.           Sobre os investimentos em Portugal, outra opção criticada no seio do seu próprio partido, sinalizou que é para manter. “Não temos ainda grande experiência, mas o que interessa é caminhar.” Ou seja, estas operações contam, como sublinhou, com o apoio do Governo.

3.           Sobre a sua sucessão, Eduardo dos Santos disse que, antes de escolher um novo presidente da República, é preciso eleger o novo líder do MPLA. Trata-se de uma jogada táctica porque o actual vice-presidente, Manuel Vicente, apontado como o seu sucessor, é visto com reservas por certos sectores do MPLA. Deste modo, José Eduardo dos Santos acalma as hostes partidárias, garantindo que nada será feito à sua revelia. Ficou também claro, se dúvidas ainda existiam, de que Eduardo dos Santos vai cumprir este seu mandato até ao fim.

4.           Num outro patamar, para consumo interno e externo, Eduardo dos Santos desvalorizou e ridicularizou os protestos contra o regime. As manifestações “nunca reuniram mais de 300 pessoas” e foram promovidas por jovens com “algumas frustrações” e que “não tiveram sucesso”. Esta é uma posição de apoio à polícia, na forma como lidaram com estas manifestações, importante, sabendo-se a influência das forças de segurança no país. Não há qualquer risco de instabilidade social, garantiu. Uma mensagem dirigida aos investidores estrangeiros que convivem mal com este tipo de riscos.

Para José Eduardo dos Santos foi um passeio no parque após um silêncio de 22 anos em matéria de entrevistas. Saiu por cima, sem qualquer dificuldade.
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