sábado, 8 de junho de 2013

“Sua Excelência Zé Dú, somos jovens autóctones exigindo que o senhor se aposente” reacção de Pedrowski Teca, jovem do Movimento Revolucionário, à entrevista de JES na SIC



Fonte: Drowski3.blogspot.com
 

"... de uma maneira geral, são jovens com certas frustrações que não conseguiram, não tiveram sucesso durante a sua vida escolar ou académica, não conseguiram uma boa inserção no mundo do emprego, etc., mas que estão fundamentalmente muito localizados", José Eduardo dos Santos em SIC Notícias aos 6 de Junho de 2013.


Sua excelência, sou o Pedrowski Teca de 26 anos de idade, nascido no Município da Samba, Província de Luanda, na antiga República Popular de Angola e sou um membro orgulhoso do Movimento Revolucinário.

São jovens com certas frustrações

Em primeiro lugar gostaria de esclarecer que a tua frase “são jovens com certas frustrações” não condiz com a nossa realidade porque o que chamas de “frustração”, é na verdade o radicalismo característico de jovens.
Radicalismo este que é visto por sua excelência como “frustração” porque não é pro ao status-quo mas é aposto à sua ditadura monárquica, a sua corrupção, ao seu nepotismo e ao seu roubo descarado do erário público à favor da sua família e dos teus amigos em detrimento do povo angolano.

Com o nosso radicalismo juvenil de intervenção social, será que a sua excelência sabe o porquê que nos chamamos de “jovens revolucionários”? O escritor e jornalista inglês George Orwell (1903-1950) disse que “numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um acto revolucionário” e sua excelência nos detem arbitrariamente, nos espanca e tortura, nos prende e emprisiona, tudo porque falamos sobre a verdade das nossas próprias vidas que o senhor desgoverna à quase 34 anos.

Não tiveram sucesso na vida escolar ou académica

Quanto as palavras de os jovens “que não conseguiram, não tiveram sucesso durante a sua vida escolar ou acadêmica”, surpreendeu-me que mesmo com os equipamentos mais caros de alta e novas tecnologias de comunicação, rastreamento, infiltração e invasão e violação do direito à privacidade dos cidadãos, que tem comprado com vista à relação e colaboração bilateral com o Israel, o senhor presidente continua ignorante dos perfis, particularmente das qualificações, dos jovens que por dois anos têm te dito “32+2 É MUITO”.

Os ataques de sua excelência aos jovens indefesos do Movimento Revolucionário que por ti “estão fundamentalmente muito localizados” foram tidas por nós como uma estratégia para minimizar o efeito das nossas ações e descredibilizar-nos como pessoas intelectuais e formadas com capacidade de pensar com as nossas próprias cabeças. Desacreditas-nos de tal maneira que procuras fantasmas que supostamente nos influenciam para fazermos o que fazemos.

Felizmente, tenho más notícias para a sua excelência: muitos de nós somos técnicos superiores, alguns já licenciados, outros já no ensino superior e não desconsiderando que pela idade, muitos ainda estão no ensino médio.

Eu sou formado em “Jornalismo e tecnologias de informação” pela Universidade de Ciências e Tecnologias (the Polytechnic) da vizinha República da Namíbia, onde no dia 16 de Abril de 2011 fui graduado com um diploma do mesmo curso pelo seu homólogo, Sua Excelência, o Presidente Hifikepunye Lucas Pohamba, nas instalações do Safari Hotel na capital, Windhoek.

“Não conseguiram uma boa inserção no mundo do emprego”

Excelentíssimo, quem, quando, como e onde fez e divulgou as estatísticas de que a pobreza em Angola está entre 35 e 36 por centos se desde a independência, o país jamais conseguiu realizar pelo menos um censo populacional?

Estando em Windhoek, eu pessoalmente participei e fui contado no último censo populacional efectuado naquele país que atualmente tem somente 2.5 milhões de habitantes, e sabes quais questões apetece-me fazer-te? Se sua excelência tem as estatísticas de que a pobreza em Angola está entre 35% e 36%, então porque não nos dizer também o nível e as razões de desempregos no país? Quantos jovens estão actualmente desempregados? Qual é a percentagem ou o número estimativo de jovens, crianças, velhos e em que condições vivem em Angola? Poderá nos dizer quantos quadros qualificados temos no país e a percentagem em suas respectivas áreas de formação? Poderá nos dizer quantos estrangeiros, particularmente os chineses, estão em Angola e em que sectores?

Sua excelência, um docente na Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, Bryan Stevenson, disse: “o oposto de pobreza não é a riqueza. Em muitos casos, o oposto da pobreza é a justiça”.
E o emprego?

Excelentíssimo, ao contrário de Angola, a Namíbia não facilita o estrangeiro: formado ou não. O que a sua excelência errou em não mencionar quando convidou os português à virem em Angola, foi por não dizeres “desde que cumpram com as leis do país”.

Na Namíbia, estas leis exigem à um cidadão estrangeiro em primeiro lugar a ser um especialista formado e em segundo lugar a ter uma certa quantia de dinheiro que o qualifica como um investidor capaz de empregar namibianos desempregados e trazer uma mais valia àquele país com os seus bens e serviços. 

A Namíbia tem leis que impedem estrangeiros a exercerem cargos de motoristas, cabelereiros, garsonetes, empregados de limpeza, etc, e será que a sua excelência pode me explicar como é que em Angola temos chineses a trabalharem como vendedores ambulantes (“zungueiros”), ajudantes de contrução civil, motoristas e noutras profissões? Quantos cidadãos estrangeiros (malianos, eritreus, os chamados mamadus, etc) abrem lojas e cantinas nos nossos bairros e cidades e em que posições de imigração se encontram? Sei que muitos estão na condição de refugiados! Sabias que os refugiados angolanos na Namíbia não eram permitidos sairem do campo de refugiados chamado “Osire”? Sabias que os refugiados angolanos não eram permitidos trabalharem como tais e deviam estar sempre na tutela e cuidados do alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados? Porquê que um estrangeiro vem em Angola exercer uma profissão que exige pouca formação acadêmica enquanto existem muitos angolanos no desemprego?

E eu? Será que me inseri no “mundo do emprego”?

Na condição de estudante de jornalismo, ganhei o prêmio de melhor jornalista do jornal universitário, Echoes campus Newspaper, em 2008. Fui estagiário voluntário no departamento de marketing da universidade, onde me destaquei e tive a oportunidade de interagir com inclusive uma delegação do nosso Instituto Nacional de Bolsas (INAB) e seu director Dr. Jesus Joaquim Baptista, cujos objectivos não incluía a ajuda aos estudantes angolanos naquele país mas o financiamento dos que estavam para imigrar para Windhoek e esse foi o meu relatório.

Como parte da experiência de trabalho exigido antes do fim do curso, em 2010, trabalhei para o jornal semário, Windhoek Observer, e neste período também prestei os meus serviços à nossa embaixada naquele país. Terminado o contracto com o Windhoek Observer, não tinha como continuar a trabalhar porque a Namíbia apenas permite as empresas contratarem estrangeiros nos ramos em que existem excassez de quadros, o que não era o caso no sector de jornalismo e não podiam emitir um visto de trabalho para mim. Por sorte, a empresa Omalaeti pretendia abrir um jornal semanário, The Villager, onde fui um dos fundadores enquadrado como jornalista sénior encarregado da secção em língua portuguesa, onde também divulguei muitas informações à pedido da nossa embaixada.

Notando as minhas competências, alguns chefes diplomatas sugeriram-me à um empresário, proprietário da revista “Sucesso” que encontrava-se estagnado, e estes contactaram-me para ressuscitar a mesma publicação imprensa em português e inglês. O facto de ser um jornalista que fala e escreve em português, o governo namibiano não podia me negar o visto de emprego para uma publicação na língua de camões naquele país.

A sua excelência quer saber o porquê que perdi aquele meu último emprego? Eu explico.

A empresa proprietária da revista teve alguns problemas financeiros e decidiram usar o resto de dinheiro financiado à revista para remediarem algumas situações e neste período, a revista ficou em “standby”. Aproveitei as férias e vim para Angola... a nossa terra! Era justamente no período da campanha eleitoral das Eleções Gerais de 2012.

Passei em algumas províncias e pude assistir ao comício de sua excelência em Benguela, o que permitiu-me escrever e publicar alguns artigos que resultaram na recepção de um “e-mail” a partir de Windhoek que me informava que os homens da embaixada reuniram com os proprietários da revista e estavam muito chateados comigo porque publiquei artigos críticos à sua excelência José Eduardo dos Santos.

Os diplomatas questionaram os directores e donos da revista: “quem financiou a viagem do Pedrowski Teca?”, “quem mandou ele ir criticar o MPLA?”. Sempre na senda de que teria de haver alguém por detrás e consequentemente pediram que a empresa se disvinculasse de mim.

De regresso à Windhoek após as eleições, reuni com os directores da empresa que tinham a missão de me demitir do cargo de “Editor-Chefe” da revista Sucesso, tudo porque publiquei artigos criticos à sua excelência, o presidente da República, José Eduardo dos Santos.

De volta em Angola

Excelência, vou à caminho de 4 meses em Luanda e não consigo um emprego condígno que me permita no mínimo sustentar-me nesta “cidade mais cara do mundo”.

Será que surgiram empregos? Claro! Dentre as várias ofertas, fui proposto à trabalhar como “assessor de imprensa” de um partido político e neguem-me estranhamente da oferta. Recentemente fui proposto à trabalhar como o homem das relações exteriores de uma instituição da SADC e estamos em concertação, o que também vai depender do pacote da oferta.

Para não dizer que critico sem fundamentos, também procurei empregos em órgãos de comunicação social pública e infelizmente até hoje fiquei sem respostas.

Quantos as competências?

Para além das experiências no departamento de marketing da universidade onde estudei, no semanário Windhoek Observer, no The Villager e na revista Sucesso, sou o proprietário da Revista Cibernética, e do blog Drowski Notícias & Opiniões.

Sou jornalista freelance e já escrevi para o Semanário Angolense, o Club-K, o The Namibian, New Era newspaper e outros órgãos de comunicação social.

O Movimento Revolucionário

Excelentíssimo, como vês, eu até posso não ter razões de queixas para além do desemprego. Obviamente não sou um frustrado e as descripções de sua excelência não se encaixam em mim, tão pouco aos meus companheiros de luta, que em conjunto genuinamente solidarizamo-nos com a realidade do nosso país e condenamos os cerca de 34 anos de desgovernação do senhor que tem tendências monárquicas, o que é uma abominação num país que se preza democrático e de direito.

Dentre os cerca de “300” jovens que o senhor chama de f”rustrados”, estou eu, um jovem radical porque pretendo combater o mal pela raíz e nesta Angola imensa, o senhor é a raíz que impede o progresso social humanístico e democrático, principalmente a justa distribuição das riquezas deste país.

Como vês, fiz-te o favor de fazer o trabalho dos teus homens dos serviços secretos da inteligência e dei-te um perfil meu e realístico, só para te dizer que sou o exemplo de que estás enganado de que os jovens que te referiste “estão fundamentalmente muito localizados”.

Sua excelência, José Eduardo dos Santos, somos jovens autóctones exigindo que o senhor se aposente e deixe-nos em paz porque o senhor já deu tudo que tinha para dar e a perpetuação dos métodos de desgovernação que se mecanizam nos 11 anos da dita paz, apenas irão impossibilitar o sonho de o senhor um dia ser lembrado na história como “um grande patriota”.
←  Anterior Proxima  → Página inicial

4 comentários:

  1. Orgulho-me que ainda haja angolanos firmes com ideias próprias, que em varias passagens eu senti um real patriota compromissado com a verdade e com igualdade de oportunidade.muito solido e verdadeiro de longe a melhor resposta dada ao grande Pr. Pedro tiro o chapéu para ti para um frustrado como nos chamam tu tens as ideias bem estruturadas. Estou contigo

    ResponderEliminar
  2. Ivan, agradeço bastante pelo apoio. estamos juntos nesta causa.

    ResponderEliminar
  3. Pedro...gostei da forma como descorreste sobre a infeliz entrevista que o PR deu, chamando de frustrados jovens com objectivos bem delineados num pais aonde a hipocresia polita faz parte daqueles que de forma desordeira treinam e fingem saber de governacao.
    felizmente as epocas mudaram pese embora uns ainda mostrem-se cabes-duro(cabeca d' ferro)em aceitar que as suas pobres policas ja nao coadunam com o nosso contexto, NOS NAO QUEREMOS QUANTIDADES E SIM QUALIDADE e modestia parte o vosso partido nao tem e nunca teve tomates para conduzir a nossa maltrada Angola.

    Aurio Michingi

    ResponderEliminar
  4. boa dica meu irmão PEDRO.
    mais uma vez esse gajo veio falar atoua
    mas isso um dia vai ter de terminar

    ResponderEliminar