segunda-feira, 17 de junho de 2013

Imagens de Lunda-Norte: Polícia e Militares Reprimem Após Manifestação




Por Maka Angola , Junho 17, 2013 Fotos: Maka Angola

Soldados das Forças Armadas Angolanas (FAA) encontram-se a patrulhar as ruas da vila de Cafunfo e a proceder a detenções arbitrárias no seguimento de uma grande manifestação ocorrida no Sábado, 15 de Junho.

Mais de 15 mil cidadãos saíram à rua ontem em repúdio à onda de homicídios e mutilação de corpos de camponesas, na referida localidade diamantífera, no município do Cuango, província da Lunda-Norte.

“Os militares das FAA estão a romper as casas das populações à procura de jovens para prenderem”, disse ao Maka Angola Paula Muacassenha, uma das organizadoras do protesto.

“Hoje (domingo) às 21h00, os militares prenderam dois irmãos, o Júnior e Waicela Alberto, que se encontravam a ver televisão em casa. Eles não participaram da manifestação, mas foram detidos sem causa.
As FAA estão a prender à toa e a criar uma situação de terror aqui em Cafunfo”, disse a activista política.

Segundo depoimentos recolhidos junto da família dos jovens, os pais foram obrigados a pagar 16,000 kwanzas (equivalente a US $160), pela libertação dos jovens, após estes terem sido torturados de forma severa pelos militares. Os militares transferiram depois as suas vítimas à custódia da polícia, que continuou com os espancamentos antes de aceitar o pagamento.

Após a manifestação a Polícia Nacional deteve o representante regional do Partido de Renovação Social (PRS), Domingos Marcos Kamone, e outros 17 manifestantes, por voltas das 14h00 horas. O PRS apoiou o protesto popular.

A concentração teve início às 7h00, no bairro do Bala-Bala, ao que se seguiu uma procissão por várias artérias de Cafunfo, animada por cânticos religiosos, entoados por mulheres que constituíam a vasta maioria dos participantes. “As mulheres de Cafunfo apareceram em massa. As mulheres estão furiosas, incluindo eu própria. No Sul, quando desaparece um boi, até o governo se preocupa. Aqui matam as mulheres de forma macabra e a polícia e o governo cruzam os braços”, lamentou Paula Muacassenha.

Em seguida, a população dirigiu-se ao Campo Onze, onde deveria ser lida uma mensagem, endereçada às autoridades locais, de repúdio à vaga de violência contra camponesas na região. No entanto, segundo Manuel Muacabinza, um dos participantes na manifestação, efectivos da Polícia Nacional interromperam o acto com um forte tiroteio.

“A manifestação foi ordeira e pacífica. Quem arranjou confusão foi a própria polícia com os seus disparos. Na retirada, alguns jovens furiosos começaram a apedrejar a polícia e incendiaram uma motorizada de um agente regulador do trânsito”, revelou o manifestante.

Uma vez terminada a manifestação, o comandante local da Polícia Nacional telefonou ao representante do PRS, Domingos Marcos Kamone, para “discutir um assunto”, segundo o relato de Manuel Muacabinza ao Maka Angola. Mas quando o líder partidário se dirigiu à esquadra, foi detido de imediato e transferido para o comando municipal da Polícia Nacional na vila do Cuango.

No dia anterior, a 14 de Junho, o administrador municipal, Luís Figueiredo Muambongue, convocou uma reunião com os organizadores da manifestação. Segundo Paula Muacassenha, que liderou o grupo de mulheres, o administrador pediu aos sobas e aos comandantes militares e policiais presentes, união no combate à onda de crimes que têm aterrorizado as camponesas.

“O administrador não falou na manifestação. Tentou ignorar o assunto apesar de o termos informado. Agora temos essa onda de perseguição. É esta a unidade a que ele se referia?”, questionou Paula Muacassenha.

No município do Cuango, as camponesas têm sido alvos frequentes de violência, que incluem muitas vezes mutilações de órgãos genitais depois de mortas. Recentemente, a região assistiu a um aumento considerável destes tipo de crimes hediondos. Pelo menos duas camponesas foram assassinadas e mutiladas na zona de Cafunfo nos últimos 45 dias.

Quase todo os crimes de homicídio contra as camponeses têm ocorrido em lavras situadas nas cercanias da zona de concessão diamantífera da Sociedade Mineira do Cuango. Tanto as autoridades locais como a Polícia Nacional pouco ou nada têm feito para investigar estes crimes. A agricultura de subsistência é a principal actividade de sustento da maioria das famílias na região, em paralelo ao garimpo.

A região do Cuango tem registado grandes manifestações populares a favor do direito à vida e da dignidade humana.

Em Dezembro de 2011, mais de três mil pessoas saíram à rua em Cafunfo para protestar contra a presença da empresa privada de segurança Teleservice. A população acusava a referida empresa de ser a executora do grosso das violações sistemáticas contra os direitos humanos, a favor da Sociedade Mineira do Cuango, que explora diamantes na região.

As manifestações foram coordenadas e realizadas em simultâneo em várias zonas mineiras da província, tendo congregado mais de 18 mil pessoas no total. Em Março de 2012, a Teleservice retirou-se da localidade, tendo sido substituída pela Bicuar que, entretanto, continua com a mesma prática de terror.













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