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Correspondente da SIC Henrique Cymerman que entrevistou o PR Angolano |
Fonte:
Jornalde Negocios.pt
A entrevista
de José Eduardo dos Santos à SIC foi um “furo” jornalístico e um passeio no
parque para o presidente da República de Angola.
O “Furo”
jornalístico traduziu-se numa entrevista melosa e a hierarquização das
perguntas causou a maior das perplexidades. Por exemplo, a segunda pergunta do
jornalista Henrique Cymerman a José Eduardo dos Santos foi: como estão as
relações entre Angola e Israel. Um critério que só se compreende por duas
ordens de razões – uma teoria da conspiração que se esmiuçará de seguida e o
facto de, eventualmente, a referida entrevista poder vir a ser transmitida na
televisão israelita.
A teoria da
conspiração é a seguinte. Israel apoia militarmente, desde há muito, Angola, e
a aproximação de Telavive é ainda potenciada pelo facto de Angola ser um dos
poucos países de África onde o islamismo não penetrou. Por outro lado, o lóbi
judeu nos EUA é útil como contraponto aos lóbis que questionam a liderança de José
Eduardo dos Santos, eventualmente promovidos pelas petrolíferas. E porquê?
Porque uma dose q.b. de instabilidade em Angola mantém o país sob a dependência
das receitas do petróleo e, por acrescento das grandes companhias petrolíferas.
Ao longo da
entrevista, José Eduardo dos Santos não foi colocado perante nenhuma pergunta
imprevista e conseguiu fazer passar a sua mensagem em Portugal, através da SIC,
um órgão de comunicação social que goza de boa reputação em Angola,
principalmente entre os oposicionistas ao regime. As contas do que a SIC
ganhou, ou perdeu, com esta operação, só poderão ser feitas mais adiante no
tempo.
Quanto às
mensagens específicas que José Eduardo dos Santos transmitiu destacam-se estas:
1.
O facto de ter dito que as relações entre Portugal e Angola se desenvolvem “num
quadro de amizade e cooperação”, tirando assim legitimidade a uma ala ortodoxa
do MPLA que é manifestamente antagónica dos portugueses e defende outro tipo de
alianças. “Já não nos guiamos por padrões de relacionamento do passado” e as
relações entre os dois países “estão voltadas para o futuro, com vantagens
mútuas no domínio económico”. E os trabalhadores portugueses “são bem-vindos”.
Frases que deverão tranquilizar as empresas e os expatriados portugueses em
Angola.
2.
Sobre os investimentos em Portugal, outra opção criticada no seio do seu
próprio partido, sinalizou que é para manter. “Não temos ainda grande
experiência, mas o que interessa é caminhar.” Ou seja, estas operações contam,
como sublinhou, com o apoio do Governo.
3.
Sobre a sua sucessão, Eduardo dos Santos disse que, antes de escolher um novo
presidente da República, é preciso eleger o novo líder do MPLA. Trata-se de uma
jogada táctica porque o actual vice-presidente, Manuel Vicente, apontado como o
seu sucessor, é visto com reservas por certos sectores do MPLA. Deste modo,
José Eduardo dos Santos acalma as hostes partidárias, garantindo que nada será
feito à sua revelia. Ficou também claro, se dúvidas ainda existiam, de que
Eduardo dos Santos vai cumprir este seu mandato até ao fim.
4.
Num outro patamar, para consumo interno e externo, Eduardo dos Santos
desvalorizou e ridicularizou os protestos contra o regime. As manifestações
“nunca reuniram mais de 300 pessoas” e foram promovidas por jovens com “algumas
frustrações” e que “não tiveram sucesso”. Esta é uma posição de apoio à
polícia, na forma como lidaram com estas manifestações, importante, sabendo-se
a influência das forças de segurança no país. Não há qualquer risco de
instabilidade social, garantiu. Uma mensagem dirigida aos investidores
estrangeiros que convivem mal com este tipo de riscos.
Para José
Eduardo dos Santos foi um passeio no parque após um silêncio de 22 anos em
matéria de entrevistas. Saiu por cima, sem qualquer dificuldade.
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